Projetos de Extensão

 

 

Virtualização do Acervo de Arqueologia do Pantanal

Protocolo: 5SPGC.030723

Resumo

Este projeto propõe a disponibilização digital do acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal, atualmente implantado na Unidade III do Câmpus do Pantanal da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Espera-se que o desenvolvimento deste projeto amplie o alcance da difusão cultural material para públicos diversos. Os conteúdos digitais serão disponibilizados via internet, em plataforma adequada, contendo uma amostra do acervo existente no LAPAN, proporcionando acesso de alunos, pesquisadores e público em geral ao acervo, independente de sua localização.

Palavras-chave: acervo arqueológico, exposição virtual, Arqueologia, Pantanal, tecnologia, virtualização

Introdução

 O trabalho de arqueologia, apesar das visões mais românticas, é um trabalho destrutivo, no sentido que, após a escavação de um sítio arqueológico, não há outra forma de reconstruí-lo. Por esse motivo o critério e precisão na coleta dos dados precisa ser maior possível, dentro das especificidades do projeto, do tipo de material e das condições de resgate. O resgate de um sítio arqueológico pode ser comparado ao “arrancar das folhas de um livro enquanto se está lendo”, ou seja, é necessário um rigor absoluto no registro dos dados uma vez que, após a sua escavação a única forma de obter informações sobre o sítio é através do seu acervo, material e documental. Segundo Tânia Andrade Lima (2007) a arqueologia é uma relação entre o passado e o presente mediada por indivíduos, grupos e instituições, a tarefa da sua preservação cabe indistintamente a todos estes mediadores. Contudo, isto só pode ocorrer se o conhecimento construído pela arqueologia tiver sido por sua vez previamente compartilhado, na medida em que as pessoas não podem ser cooptadas e estimuladas a cuidar daquilo que elas sequer conhecem. Diante do apresentado compreende-se que a cadeia operatória do trabalho de preservação do patrimônio arqueológico corresponde a adequada preservação do acervo, a produção de conhecimento sobre esse acervo e sua divulgação. O acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal é composto por mais de oitenta e oito mil artefatos entre peças cerâmicas, líticos, ossos, carvões, madeiras, conchas, colares, pingentes e cachimbos frutos de doações e escavações em sítios arqueológicos. Alguns desses materiais estão presentes na sala de exposições do laboratório, que traz também informações históricas sobre os primeiros habitantes do Pantanal até o processo de colonização entre o século XVI e XVIII. Atualmente as exposições tradicionais, onde ocorre apenas a observação de artefatos disputam espaço e também o público com as exposições virtuais. A sociedade demanda novas formas de interagir e acessar objetos e informações. Hoje a informação está acessível através de um clique ou toque na tela. Tecnologias variadas têm sido adotadas para o contexto de museus, tornando a experiência mais envolvente e prazerosa. Esse projeto busca trazer para a região pantaneira inovações tecnológicas que possam ser adotadas pelo acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal, visto que acesso à acervos de diversos museus espalhados pelo mundo via internet já é uma realidade. Pode-se visitar o sítio arqueológico de Lascaux (França) virtualmente ou mesmo acessar parte da coleção do Museu de Arqueologia da USP – MAE-USP (http://www.sophia.mae.usp.br/) totalmente online. É possível conhecer e aprender sobre cultura e arte sem sair de casa. A tecnologia também permite maior interação durante uma exposição, seja com áudios, vídeos ou guias virtuais. Como o Câmpus do Pantanal não dispõe de recursos para a aquisição e muitas das tecnologias atuais possuem alto custo, encontrar soluções de software livre é primordial. Como explica Hexsel (2002, p.7), “software livre é definido como o software cujo autor o distribui e outorga à todos a liberdade de uso, cópia, alteração e redistribuição de sua obra”, o que nos dá a liberdade de utilizarmos o software de acordo com as necessidades do museu sem nos preocuparmos com problemas de direitos autorais. Para além do uso de software livre, este projeto pode ainda gerar novos softwares, produzidos no Câmpus e específicos para nosso objetivo. A presente proposta está organizada da seguinte forma: objetivos; resultados esperados; fundamentação teórica com apresentação dos conceitos, de acervo virtual e como as tecnologias qr code, realidade virtual, realidade aumentada, aplicativos e guias virtuais vêm sendo utilizadas por museus atualmente. Também, apresenta metodologia e o cronograma para a execução.

Justificativa

 Fundamentação teórica e justificativa. Acervo Arqueológico O conceito de acervo arqueológico, apesar de intuitivo, demanda de algumas considerações e conceituações. Para tanto, trago as reflexões apresentados por Alejandra Saladino (2016) no verbete do Dicionário do IPHAN de Patrimônio Cultural: Um acervo arqueológico corresponde a um conjunto de bens de interesse para a Arqueologia, que tenha resultado de pesquisas arqueológicas ou com potencial para o desenvolvimento de pesquisas do tipo. Sua existência decorre das obrigações legais e éticas de arqueólogas e arqueólogos em preservar os dados coletados e produzidos em suas pesquisas para as futuras gerações e com vistas à fruição do público em geral, quando for o caso. Os acervos arqueológicos incluem não apenas os materiais reunidos durante as pesquisas arqueológicas, mas também o registro das atividades e de toda a informação associada, como mapas e croquis, fotografas, cadernos de campo, amostras de solo e documentação afim. Tais acervos também podem abrigar ou ser formados por bens obtidos em razão de doações, repatriação, achados fortuitos e outras formas legalmente previstas de aquisição, com o objetivo de assegurar que não sejam descartados – encontrem-se isolados ou em conjunto, com ou sem dados contextuais e associados. É preciso considerar, sempre, que determinados dados e bens podem oferecer um grande potencial de análise para pesquisas futuras, haja vista o constante surgimento de novas tecnologias e de novas abordagens que passam progressivamente a atuar em favor da produção do conhecimento arqueológico. É nesse sentido que acervos vastamente estudados ou, por outro lado, considerados inócuos em um dado momento, podem vir a se tornar objeto de pesquisas futuras. Os materiais que integram os acervos são da mais variada ordem, podendo incluir cerâmica, louça, material lítico, metais, vidros, entre muitos outros – se consideradas as coleções do período histórico. Incluem, também, materiais orgânicos, a exemplo dos materiais ósseos – humanos ou faunísticos – e dos vestígios vegetais. A diversidade desses bens exige que haja grande atenção as suas particularidades em se tratando de sua conservação. Ao passo que coleções arqueológicas são distinguidas, em geral, por uma procedência em comum, os acervos arqueológicos são geralmente associados ao conjunto de bens sob guarda de uma mesma instituição ou reunidos em um mesmo local físico – podendo incluir dados oriundos de diferentes projetos de pesquisa e diferentes sítios ou regiões. Deste modo, um acervo pode abrigar distintas coleções. A composição de um acervo desse tipo deve envolver uma série de procedimentos direcionados a sua preservação e gestão, como higienização, catalogação, classificação e acondicionamento adequado dos bens. Tais procedimentos podem se dar em laboratórios destinados a esse fim, assim como esses acervos podem ser dispostos em reservas arqueológicas, instituições de guarda ou museus que garantam sua salvaguarda e extroversão. Nem todo acervo ou nem todos os seus elementos constituintes, contudo, são passíveis de ser musealizados. Os acervos arqueológicos remontam às coleções de antiguidades e curiosidades formadas, sobretudo, a partir do afã antiquarista do período Moderno – muito antes da conformação da Arqueologia enquanto disciplina científica. No Brasil, os primeiros acervos arqueológicos foram constituídos a partir da atuação de museus que, desde muito cedo, se ocuparam em reunir materiais desse tipo, sobretudo daqueles com maior apelo estético. Os esforços de profissionais associados a essas instituições, mas também de arqueólogos profissionais ou amadores e interessados em geral, foram responsáveis até meados dos anos 1960 pela geração de grande parte das coleções que compuseram o acervo de museus de grande vulto, como o Museu Nacional no Rio de Janeiro e o Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém. A definição sobre acervo, faz-se necessária no âmbito do presente projeto uma vez que a unidade institucional existente no CPAN/UFMS é o Laboratório de Arqueologia do Pantanal, conforme regulamentos da RESOLUÇÃO Nº 598-CAS/CPAN/UFMS, DE 17 DE MAIO DE 2021, sendo a sala de exposição uma parte vinculada ao LAPAN. 4.2 Exposição Virtual A exposição virtual, segundo Lima (2013), é designada àqueles espaços que se encontram na web, ou seja, possui qualquer registro de seu acervo na internet. O termo virtual pode ocorrer tanto para as exposições que existem de forma física e passam pelo processo de digitalização de seu acervo, quanto para aqueles que existem somente no mundo virtual. Como explica Henriques (2004) a virtualização das exposições não depende somente de colocar o acervo na internet, mas sim proporcionar a interação do público com este acervo virtual, oferecendo maior imersão e melhor entendimento da história do artefato exposto. Torres (2017) ainda defende que usar a tecnologia como forma de comunicação pode ajudar a flexibilizar a prerrogativa do pesquisador sobre a interpretação dos dados, ao passo que valoriza seu pertencimento em grupos de pesquisa, redes de trabalho e projetos interativos, projetando positivamente a pesquisa científica junto a um público mais amplo e potencialmente eclético. A partir daí, produção e circulação do conhecimento podem tornar-se uma experiência de inteligência coletiva, surgindo com isso novas e variadas formas de expansão e validação. 4.2 Tecnologias na exposição A tecnologia transformou a forma das pessoas se relacionarem. Hoje as redes sociais aproximam as pessoas e a internet disponibiliza informações a qualquer hora e lugar. A digitalização dos acervos permite, por exemplo, sua disponibilização através da internet e amplia o acesso à pessoas do mundo todo. A interatividade por meio digital, como aplicativos específicos, hashtags, mídias sociais e afins, quando usadas no contexto correto, podem atrair novos olhares e novos significados sobre estes artefatos. Temos no Brasil alguns exemplos de museus que estão se adaptando às novas tecnologias. O Centro Cultural Banco do Brasil (2018) utiliza um aplicativo que auxilia o visitante durante suas exposições. Com este aplicativo você tem acesso à informações adicionais sobre os artefatos, disponível em Língua Portuguesa e Inglesa, e ainda um áudio-guia que pode ser utilizado direto no celular. Antes mesmo de entrar no prédio já se vê o uso da tecnologia, pois ele permite você reservar suas entradas pela internet e apresentar o ingresso pelo celular na entrada, evitando filas. Também em São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (2018), principal museu da cidade, utiliza seu site como um meio de acessar seu acervo e adquirir informações sobre os artefatos, disponibilizando também um áudio-guia. O MASP tem registrado mais de mil obras do acervo no Google Arts & Culture, permitindo visitas online de pessoas de fora do país. Outra tecnologia adotada por uma boa parte dos museus brasileiros é o qr code, um código bidimensional inventado pela Toyota em 1994. Como a empresa patenteou o código em domínio público, qualquer pessoa ou empresa que queira utilizá-la o fará de forma livre. O código pode ser lido pela câmera do celular, fazendo com que o visitante acesse maiores detalhes do artefato observado, podendo conter também áudio e vídeo. Para além da digitalização de acervos, a realidade virtual vem sendo utilizada como forma de encurtar distâncias e permitir a experiência de uma visita a partir de qualquer lugar do mundo. Segundo Kirner e Siscoutto (2007, p.7) realidade virtual é uma “interface avançada do usuário para acessar aplicações executadas no computador, propiciando a visualização, movimentação e interação do usuário, em tempo real, em ambientes tridimensionais gerados por computador”. Com um modelo virtual do museu é possível percorrer corredores e salas modeladas em 3D e conhecer seu acervo. Já a realidade aumentada permite “a sobreposição de objetos e ambientes virtuais com o ambiente físico, através de algum dispositivo tecnológico” (Kirner e Siscoutto, 2007, p.12). Esta realidade permite sobrepor os elementos reais de nosso ambiente com algum elemento virtual específico da aplicação, usando qualquer dispositivo que permite o uso da realidade aumentada, como o celular. Seria possível por exemplo, visualizar e interagir com um vaso antigo de cerâmica virtualizado sobre uma mesa real. Sites, aplicativos e áudio-guias, como os citados anteriormente, são uma pequena amostra das tecnologias disponíveis e que são usadas pelos museus atualmente. A variedade de tecnologias disponíveis para esta finalidade é imensa e necessita ser estudada para seleção, adaptação e uso no Laboratório de Arqueologia do Pantanal.

Objetivo geral

O objetivo geral deste projeto é utilizar recursos das tecnologias de informação para a virtualização do acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal.

Objetivos específicos

Os objetivos específicos são: Levantamento das informações do acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal; Separação das peças representativas de cada coleção para digitação; Criação de tabela informativa sobre as peças selecionadas; Digitalização das peças do acervo em 3D; Pesquisa de tecnologias que permitam a exibição do conteúdo digital no ambiente do LAPAN; Disponibilização do acervo no formato virtual.

Metodologia

O levantamento das informações do acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal (LAPan) a serem disponibilizadas a exposição será a primeira atividade para o desenvolvimento do projeto. Essa atividade será realizada pelos alunos da disciplina de Práticas de Laboratório em Arqueologia do curso de História CPAN/UFMS e contará com seguintes etapas: Identificação das coleções de acordo com os registros de escavação; Visualização da coleção e seleção de peças representativas; Levantamento de informações sobre as peças (grupo etnocultural, técnicas, datação relativa e absoluta – quando houver, origem do material, coordenadas geográficas, textos de referências, e outras informações relevantes como áudios que podem contar a história ou até uma curiosidade); Fotografa das peças com escala e/ou digitação das mesmas; Para a seleção das tecnologias para uso nas exposições no museu será utilizada a pesquisa exploratória em bases de artigos científicos da área da computação e bases de softwares livres, tais como Sourceforge e GitHub. As necessidades a serem atendidas serão determinadas considerando o material produzido, custos, hardwares disponíveis para uso no LAPAN. Para cada tecnologia considerada compatível serão desenvolvidos testes de uso em laboratório de modo a selecionar a alternativa mais adequada. Ao final, cada tecnologia selecionada estará disponível ao público durante a exposição. Para a disponibilização do acervo via internet a pesquisa em bases de artigos e de softwares livre será executada novamente, adicionando-se o requisito de disponibilizar o conteúdo produzido de modo a torná-lo acessível online no formato de museu virtual. O software selecionado será disponibilizado no domínio ufms.br.

Resultados esperados

Espera-se que o desenvolvimento deste projeto amplie o alcance da difusão da cultura material do acervo do Laboratório de Arqueologia do Pantanal através do uso de tecnologias de informação, atraindo maior visibilidade para os visitantes do espaço de exposição do laboratório e mais pesquisadores interessados na coleção do LAPAN. Os conteúdos digitais serão disponibilizados via internet e no próprio ambiente do LAPAN, proporcionando acesso de alunos, pesquisadores e público em geral ao acervo, independente de sua localização.

Bibliografa

CENTRO Cultural Banco do Brasil. Disponível em: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/sao-paulo/. Acesso em: 30 set. 2019.

DE MORAES-WICHERS, Camila A. et al. Para além dos objetos: experiências, narrativas e materialidades em processos de Musealização da Arqueologia e do patrimônio cultural indígena. Revista de Arqueologia, v. 33, n. 3, p. 104-123, 2020.

HENRIQUES, Rosali. Museus Virtuais e Cibermuseus: A internet e os Museus. Portuga: [s. n.], 2004. 17 p. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/public/editor/museus_virtuais_e_cibermuseus_-_a_internet_e_os_museus.pdf. Acesso em: 3 out. 2019.

INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS (ICOM). Statutes. 2017. Disponível em: <https://icom.museum/wp-content/uploads/2018/07/2017_ICOM_Statutes_EN.pdf>. Acesso em: 04 set. 2019.

KIRNER, Claudio; SISCOUTTO, Robson. Realidade Virtual e Aumentada: Conceitos, Projeto e Aplicações. Rio de Janeiro: [s. n.], 2007. 300 p. Disponível em: http://www.de.ufpb.br/~labteve/publi/2007_svrps.pdf. Acesso em: 24 set. 2019.

LIMA, D. F. C. O que se pode designar como museu virtual segundo os museus que assim se apresentam. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 10, 2009, João Pessoa. Anais… João Pessoa: UFPB, 2009.

LIMA, Tania Andrade. Um passado para o presente: preservação arqueológica em questão. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, v. 33, p. 5-21, 2007.

MARTINS, Cesar Eugenio Macedo de Almeida; BARACHO, Renata Maria Abrantes. Tecnologia e interação: os museus no contexto das novas formas de expor e comunicar. Revista Museu, [s. l.], maio 2019. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/artigos/18-de-maio/18-maio-2018/4743-tecnologia-e-interacao-os-museus-no-contexto-das-novas-formas-de-expor-e-comunicar.html. Acesso em: 3 out. 2019.

MUSEU DE ARTE DE SÃO PAULO. Disponível em: https://masp.org.br/. Acesso em: 24 set. 2019.

POULOT,  D.  Museologia. In: Museu e  a  Museologia.  Belo  Horizonte:  Autêntica, 2013.  p. 15–81.

SALADINO, Alejandra; POLO, Mario. Acervo Arqueológico. In: GRIECO, Bettina; TEIXEIRA, Luciano; THOMPSON, Analucia (Orgs.). Dicionário IPHAN de Patrimônio Cultural. 2. ed. rev. ampl. Rio de Janeiro, Brasília: IPHAN/DAF/Copedoc, 2016. (verbete). ISBN 978-85-7334-299-4.

TORRES, R. Arqueologia Histórica na Era Digital. Vestígios: revista latino-americana de Arqueologia Histórica, v. 11, p.7-19, 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Relatório 2002: Software livre. Curitiba, 2002. 53 p.

  Mais informações em: luana_campos@ufms.br

 

Memória e patrimônio cultural do bolsão sul-mato-grossense

Protocolo: ELIMT.180523

Resumo

O patrimônio cultural é um importante instrumento político de consolidação identitária e devemos compreender quais são as características de cada região para melhor estabelecer políticas públicas de preservação. Por esse motivo o objetivo do projeto será identificar através da memória coletiva das famílias dos alunos da educação básica quais os elementos são considerados patrimônio cultural da região do bolsão sul-mato-grossense, como forma de elaborar subsídios para políticas públicas de preservação e fomento a cultura local.

Palavras-chave: patrimônio cultural, memória, bens culturais

Introdução

 O que é patrimônio cultural? Qual a importância do patrimônio cultural? Como se estabelece ou se seleciona um patrimônio cultural? Estas são algumas questões que estão no cerne do debate sobre patrimônio cultural no Brasil. Um tema por vezes considerado acessório, não prioritário e constantemente deixado para 2º ou 3º plano nas ações de políticas públicas tem se revelado importante em vários momentos da história. Para focarmos apenas na história do Brasil podemos destacar a utilização do patrimônio cultural na consolidação de um Estado Nacional, na década de 1930 através da política nacionalista de Getúlio Vargas. Trata-se de um momento, a exemplo do que acontece em outros lugares do mundo (Funari, 2002), onde o estabelecimento de um patrimônio cultural correspondeu a seleção de um passado comum de um determinado povo, algo que uni a “nação” um único ideal, o de soberania nacional (Silva, 2011). Se pensarmos na história da construção do Brasil compreendemos quão importante a manutenção da unidade territorial, cultural e política têm sido para a consolidação do estado nacional democrático de direito, que temos hoje. Momentos de conflitos como a guerra dos farrapos (20/09/1835 – 1/03/1845); a Confederação do Equador (1824) que adere a ideia de um nordeste separado do Brasil; e, a Revolução Constitucionalista (1932) quando se especulou a hipótese do objetivo dos revoltosos ser a secessão de São Paulo do Brasil, são exemplos da dificuldade de manutenção da unidade do país Por fim, em 1937 Vargas convoca seu ministro da educação e saúde, Gustavo Capanema, e dá a ele a função de estabelecer os parâmetros para a constituição de um Patrimônio Cultural Nacional. Aqui temos duas questões singulares: a primeira é a relação do conceito de cultura trazido ao Brasil atrelado ao conceito de educação, completamente ao estilo francês que trata a cultura e civilização como expoentes de erudição no séc. XVIII (Pilla, 2003); A segunda questão é o início de uma disputa intelectual sobre o que era ser brasileiro ainda no rescaldo da semana de arte moderna de 1922. Tema esse muito bem retratado no livro de Marcia Chuva, os arquitetos da memória (Chuva, 1998), onde a autora demonstra como o modernismo se torna o representante da cultura brasileira. Aqui já encontramos um ponto importante para a construção do projeto que proponho, a memória. Após o estabelecimento das normas que definem o que é patrimônio cultural e quem seriam os responsáveis por cuidar desse patrimônio, através do Decreto-Lei n. 25/1937, e após o Estado passar por várias fases de entendimento do que é patrimônio e como esse patrimônio deve ser preservado, chegamos aos anos 2000 com a atribuição do conceito de referência cultural como o principal instrumento de definição do que é patrimônio cultural (Fonseca, 2001; Mendes, 2012). Dentro do conceito de referência cultural a principal questão para a definição de patrimônio cultural é responder à questão: Patrimônio Cultural para quem? Agora, não basta serem vinculados a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico, é preciso estar ancorado nas pessoas que representam esse patrimônio, numa clara inversão de percepção. Deixamos de ter um olhar seletivo para os bens que tem valor unicamente excepcional e/ou monumental para dar os protagonismos as pessoas. Seu entendimento, suas percepções, suas formas de ver e lembrar do seu próprio espaço e dos bens que nele se encontram. Contudo, apesar do avanço humano que a inversão de percepção pode representar, ainda temos algumas dificuldades técnicas. Principalmente as dificuldades relacionadas a memória coletiva. Para tanto vamos buscar em autores clássicos uma resposta de como lidar com as possíveis distorções que a memória individual pode causar na compreensão de uma memória coletiva. Para Halbwachs (1968) o indivíduo que lembra é sempre um indivíduo inserido e habitado por grupos de referência; a memória é sempre construída em grupo, mas é também, sempre, um trabalho do sujeito. Ao passo que Pollak (1992) reafirma que a memória não se resume à vida de uma pessoa, mas também é uma construção coletiva, um fenômeno construído, organizado a partir do presente, e em parte herdada. Desta forma podemos considerar que a memória individual tem trechos, resquícios de uma memória coletiva, quiçá nacional que pode ser verificada quantitativa e qualitativamente. Olhando agora para o estado de Mato Grosso do Sul observamos diferenças entre as 04 regiões do estado (Leste; Centro norte; Pantanal; e Sudeste), como em qualquer estado com grande extensão de terra, as características culturais desses lugares são bem marcantes, mas também há elementos que os une, sendo esse o escopo do presente projeto.

Justificativa

Numa rápida busca na plataforma google sobre “qual é a cultura do estado de Mato Grosso do Sul?” a resposta foi: A cultura sul-mato-grossense é reflexo da diversidade de povos que habitam o local. As principais influências são dos vizinhos paraguaios e bolivianos. Também é marcante a presença de gaúchos que abriram fronteiras e criaram cidades na região. Está no Mato Grosso do Sul a terceira maior colônia japonesa do País. A miscelânea influencia diretamente na culinária. Os pratos típicos sul-mato-grossenses são o churrasco, de influência gaúcha; a sopa paraguaia e o pucheiro, do interior do Paraguai; a saltenha, da Bolívia e o sobá, do Japão. De influência paraguaia, o tereré está presente na maioria das cidades. A bebida consiste em mate gelado, que pode ser tomado puro ou com adição de ervas aromáticas e limão. (Fonte: https:// www.todamateria.com.br/estado-do-mato-grosso-do-sul/) Nascida e criada na região leste do estado de MS, também conhecida como região do Bolsão, não identifica os aspectos culturais característicos dessa região na presente definição. Destarte, considerando que o estado de MS é uma grande extensão de terra no centro do país, o projeto pretende focar inicialmente na região leste, que faz fronteira com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Paraná por ter, pelo que compreendo como hipótese, características culturais mais diluídas pela influência dos outros estados. Outra questão que justifica a proposição do projeto é a falta de atividades específicas para uma aproximação dos alunos da educação básica com o conceito de patrimônio cultural, especialmente o patrimônio cultural da sua região, uma vez que no Brasil a noção de cultura foi historicamente atrelada ao conceito de erudição, observa-se uma incapacidade de associação dos valores locais com o patrimônio cultural.

 

Objetivo geral

 Identificar através da memória coletiva das famílias dos alunos da educação básica quais os elementos são considerados patrimônio cultural da região do bolsão sul-mato-grossense, como forma de elaborar subsídios para políticas públicas de preservação e fomento a cultura local.

Objetivos específicos

Apresentar o conceito de patrimônio cultural para a comunidade a partir das escolas municipais; recuperar elementos da memória coletiva que fazem referência a cultura da cidade; Criar indicadores para construção de políticas públicas municipais de preservação do patrimônio cultural local.

Metodologia

Relação Ensino, Pesquisa e Extensão com Referências Bibliográficas Elaborar questionário apropriado para as séries fundamentais atuarem com suas famílias para a identificação de elementos da memória da cidade, com auxílio de alunos do curso de psicologia da UFMS Campus Paranaíba. Fazer contato com os professores das escolas municipais para apresentar a importância e as possibilidade de utilização dos bens culturais como instrumentos didáticos e convidá-los a compor o projeto na etapa de aplicação do questionário. Realização de palestras nas escolas municipais sobre o que é patrimônio cultural para sensibilizar professores, administrativos e alunos para participarem da identificação do patrimônio local. Aplicar o questionário com auxílio dos professores das escolas municipais e parceiros. Tabulação de dados com auxílio dos alunos do curso de matemática da UFMS – Campus Paranaíba. Elaboração de documento com a relação de indicadores a serem apresentados para os prefeitos das cidades do bolsão para subsidiarem a criação de políticas de preservação do patrimônio cultural.

 

Resultados esperados

– Ampliar o conhecimento dos alunos da educação básica sobre patrimônio cultural;

– Identificar os elementos que definem a região culturalmente;

– Elaborar documento que sirva de subsídio para as prefeituras estabelecerem suas políticas de preservação do patrimônio cultural local.

 

Bibliografa

 CHUVA, Márcia Regina Romeiro. Os arquitetos da memória: a construção do patrimônio histórico e artístico nacional no Brasil (anos 30 e 40). Departamento de História. Universidade Federal Fluminense, Río de Janeiro, 1998.

FUNARI, Pedro Paulo A. A Arqueologia Pública na América Latina e seu contexto mundial. Fronteiras, v. 6, n. 11, p. 87-96, 2002.

FONSECA, Maria Cecília Londres. Referências culturais: base para novas políticas de patrimônio. 2001.

HALBWACHS, Maurice. A MEMÓRIA COLETIVA Traduzido do original francês. LA MÉMOIRE COLLECTIVE (2.ª ed.) Presses Universitaires de France. Paris, França, 1968

 

Mais informações em: luana_campos@ufms.br

 

 

Arqueologia do Pantanal – Análises arqueológicas, laboratoriais, educação patrimonial e endosso institucional do Laboratório de Arqueologia do Pantanal – CPAN/UFMS

Protocolo   FI6SV.120523

 

Resumo

O Laboratório de Arqueologia do Pantanal – LAPan, conectado com os projetos de inovação, empreendedorismo e popularização da ciência busca, por meio do projeto “Arqueologia do Pantanal” oferecer serviços de diagnóstico, prospecção, resgate, análise e mapeamento arqueológico, através da celebração de endossos institucionais, contratos e convênios, como forma de desenvolver informações sobre a cultura material, ferramentas de ensino, que sirvam a projetos de Educação patrimonial e ambiental, docência e publicações.

Palavras-chave: arqueologia do Pantanal, licenciamento ambiental, cultura material

 

Introdução

Segundo informação de José Luís Peixoto, o LAPan começou suas atividades em novembro de 1996, no Campus do Pantanal (CPAN) em razão da implementação da bolsa de Desenvolvimento Científico Regional/CNPq. Ao longo dos anos, o LAPan foi se consolidando como um espaço fundamental para a realização de pesquisa básica e na formação dos acadêmicos do curso de História, nas disciplinas de Arqueologia e Prática de Laboratório em

Arqueologia. O laboratório possibilita desenvolver atividades técnicas e científicas, num espaço adequado para triagem e higienização do material arqueológico, assim como realizar as análises de material cerâmico, lítico, arqueofaunístico, etno-histórico e de arte rupestre. Os equipamentos e os móveis pertencentes ao LAPan foram adquiridos por meio dos projetos de

pesquisa financiados pelo CNPq e Fundect e, eventualmente, pela UFMS.

Atualmente o Laboratório está sobe a coordenação da professora doutora Luana Cristina da Silva Campos, e tem acesso aberto para acadêmicos, aos professores da UFMS e aos pesquisadores em geral, disponibilizando coleções de referências de cerâmica e de fauna pantaneira, bem como uma biblioteca com livros e artigos impressos, que auxilia o corpo docente e discente em suas pesquisas.

O LAPan é um centro de investigação que deve ser considerado com referência para a pesquisa no país. Segundo Oliveira (2000) a arqueologia do Pantanal passou por dois momentos:

O início do primeiro momento da arqueologia pantaneira atesta uma tomada de consciência sobre a antiguidade dos povos indígenas na região, especialmente dos pescadores-caçadorescoletores que ali construíram estruturas monticulares (aterros) e produziram painéis com arte rupestre (pinturas e inscrições). Significa dizer que a arqueologia pantaneira surgiu de maneira

semelhante à arqueologia desenvolvida em outras partes do continente americano, onde desde a época colonial sítios arqueológicos do tipo aterro, também chamados de aterrados, montículos, cerritos, tesos ou mounds, vêm despertando a atenção de muitos exploradores e cientistas sociais.

O segundo momento da arqueo-logia pantaneira, aquele que vem até os dias de hoje e também reflete as mudanças de nuance registradas na arqueologia brasileira nas duas últimas décadas do século XX . Tais mudanças estão relacionadas a um conjunto de fatores, dentre os quais não se pode minorar o processo de redemocratização do país e o surgimento de cursos de pós graduação stricto sensu. Mais ainda: essas transformações também foram impulsionadas com o aparecimento de uma nova geração de arqueólogos brasileiros, a qual passou a inovar, e muito, os estudos arqueológicos realizados no país desde a década de 1980.”

E é pensando nesses novos caminhos da arqueologia brasileira que o projeto de extensão “Arqueologia do Pantanal” se insere.

 

Justificativa

Muitos são os fatores que justifica a proposição do presente projeto:

– Segundo informações apresentadas pelo IPHAN, as instituições de guarda do país passam uma fase de sobrecarga (CERQUEIRA, 2018);

– São poucos os laboratórios de pesquisa destinados a arqueologia em funcionamento no Estado;

– Aumento da demanda por pesquisas arqueológicas no estado como reflexo de um crescimento do setor econômicos do agronegócio; (https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/

boi/344623-producao-de-carne-sustentavel-do-pantanal-aumentou-97-

em-2022.html#.ZC3aH3ZKjIU)

– O pouco contingente histórico de pesquisas arqueológicos desenvolvidos na região do pantanal (BESPALEZ, 2015);

São alguns dos fatores que corroboram com a necessidade de haver um projeto voltado a oferecimento de serviços pelo laboratório de arqueologia a comunidade. Considerando que o LAPan é hoje o principal local centro de pesquisa arqueológica da região.

 

Objetivo geral

Fornecer os principais serviços que compõe o trabalho de investigação arqueológica.

 

Objetivos específicos

1- Identificação de sítios arqueológicos por meio de ações de diagnóstico e prospecção;

2- Cadastramento de sítios arqueológicos em acordo com as normativas do IPHAN;

3- Elaboração e execução de projetos de arqueologia preventiva e/ou emergência na região, através da celebração de contrato ou parcerias;

4- Fornecimento e recebimento de endosso institucional de acordo com as normativas estabelecidas pela FAPEC;

5- Limpeza, Catalogação e arquivamento de material arqueológico, arqueofaunísco, malacológico e antrópico em geral, seja por aquisição em projeto específico ou por doação;

6- Resgate arqueológico;

7- Fornecimento material cartográfico sobre os sítios;

8- Criar e executar ações de educação patrimonial e/ou ambiental através da celebração de contrato ou parcerias;

9- Produção de material de extroversão das ações realizadas através de publicações de artigos, relatório e/ou livros;

10- Parceria com IPHAN MS, assim como seu escritório regional, para ações voltadas à preservação do patrimônio arqueológico;

11- Estabelecer parcerias com outras instituições de pesquisa para a execução das ações inerentes as atividades arqueológicas;

 

Metodologia

Será analisado para o desenvolvimento de metodologias específicas que abordem o ensino, a pesquisa, a extensão, a inovação e o empreendedorismo. Dessa forma, organizamos e treinaremos os participantes respeitando as especificidades de cada ação. Logo, seguiremos os princípios básicos da catalogação documental arqueológica; da teoria e prática arqueológica; da

educação patrimonial e ambiental; das análises laboratoriais arqueológicas; dos fundamentos da salvaguarda e resgate do IPHAN seguindo a Instrução Normativa, nº 001, de 25 de março de 2015 – IPHAN.

 

Resultados esperados:

– Aumento da reserva técnica;

– Aumento do banco de dados sobre a ocupação do pantanal e região;

– Bolsa de pesquisa para alunos de história;

– Recurso financeiro para investimento no laboratório

 

Bibliografia

EREMITES DE OLIVEIRA, J. Da pré-história à história indígena: (re) pensando a Arqueologia e os povos canoeiros do Pantanal. Tese (Doutorado em História/Arqueologia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, 2002. Acesso em: Vista do Da pré-história à história indígena (sabnet.org)

PEIXOTO, José Luís S. LAPan – Laboratório de Arqueologia do Pantanal. Disponível em: https://cpan.ufms.br/arqueologia-cpan/

CERQUEIRA, Ádila Borges Figueira. Do passado para o futuro? Políticas de gestão de acervos arqueológicos nas instituições de guarda e pesquisa do estado de Goiás. 111 fls. Dissertação (Mestrado em Preservação do Patrimônio Cultural) – IPHAN, Rio de Janeiro, 2018.

BESPALEZ, Eduardo. Arqueologia e história indígena no Pantanal. Estudos avançados, v. 29, p. 45-86, 2015.

 

Mais informações em luana_campos@ufms.br

 

 

 

CONHECENDO A CULTURA MATERIAL

Protocolo: BS3OC.020323

 

Resumo

Uma aproximação dos alunos da educação básica às fontes materiais relacionado às culturas pode influenciar positivamente na aprendizagem, uma vez que permite concretiza a produção de conhecimento. Destarte, o projeto tem por objetivo introduzir os alunos do curso de licenciatura em história do CPan/UFMS ao ensino através da utilização de fontes materiais para alunos do ensino básico. Tal ação acontecerá no espaço do Laboratório de Arqueologia do Pantanal através da confecção de cerâmicas indígenas, arte rupestre, identificação de ossos, tudo elaborado com materiais obtidos na natureza para demonstrar como o estudo dos artefatos nos permite compreender as pessoas e as suas relações com o ambiente no passado e presente. Em resumo as atividades buscam proporcionar uma experiência didática aos alunos do curso de história e uma experiência de ensino diferenciada aos alunos das escolas públicas.

Palavras-chave: Cultura material, Educação, Arqueologia, História

Introdução

Numa análise apresentada por Ulpiano Bezerra de Menezes, na década de 1980, o autor retrata como a cultura material passa por um estigma dentro das ciências humanas ao dizer que a função dos artefatos, como é chamado pela arqueologia “[…]seria o de controle e, nos casos mais felizes, complementação da documentação textual.” (MENESES, 1983: 01). Seguindo uma lógica longamente difundida que a fonte principal, quando não única, do historiador é a documentação. Contudo, cabe lembrar que a construção de narrativas históricas sobre fontes documentais, especialmente as fontes oficiais, positivamente tratadas por métodos metricamente estabelecidos para a obtenção da verdade, são heranças superadas pelas práticas interdisciplinares compiladas desde a Escola dos Annales, com os seus quase 85 anos. Atualmente, a interdisciplinaridade é considerada como parte indissociável da história, e nesse contexto a desprestigiada cultura material ganha novo destaque, não como complementação, mas como fonte em si. Segundo Daniel Miller a cultura material pode ser considerada como um campo de conhecimento específico, destinado a compreender todos os aspectos das relações entre o material e o social, que ultrapassam a própria materialidade uma vez que contempla toda uma cadeia operatória, da concepção ao descarte. De caráter interdisciplinar vem sendo utilizada tanto na história e arqueologia, como em áreas como arquitetura, artes designer e outras. Antes de mais, é basilar compreender a cultura material na sua versão mais ampla, como suscita Deetz (1977 apud LIMA, 2011) como sendo qualquer segmento do meio físico modificado por comportamentos culturalmente determinados, o qual acrescento, temporalmente reconhecido. O uso da cultura material, e por consequência de seu conceito, em sala de aula ou espaço fora da sala de aula, tende a contribuir para o aprendizado do aluno no ensino básico e com o aumento do interesse desses pelas ciências do passado, cujo o conhecimento é maioritariamente tratado de forma abstrata pelos livros didáticos. Segundo os Parâmetro Curriculares Nacional – PCN :

Para que uma aprendizagem significativa possa acontecer, é necessário investir em ações que potencializem a disponibilidade do aluno para a aprendizagem, o que se traduz, por exemplo, no empenho em estabelecer relações entre seus conhecimentos prévios sobre um assunto e o que está aprendendo sobre ele. Essa disponibilidade exige ousadia para se colocar problemas, buscar soluções e experimentar novos caminhos. (pg. 93)

Nesse sentido o presente projeto apresenta a cultura material com um “novo caminho” a ser traçado por professores e aluno no entendimento das relações sociais dos homens no passado e no presente, visto que o curso de licenciatura em História do CPan/UFMS busca proporcionar, além de um conhecimento crítico e qualificado sobre o conteúdo produzido acerca das diferentes sociedades ao longo do tempo, também uma prática ampla de docência de nível básico e superior a partir de diferentes fontes, métodos e instrumentos.

Justificativa

Pela prática do campo da história observamos uma priorização na utilização da documentação como instrumento de ensino em detrimento de outras fontes, fator aqui apresentado como constatação e não como crítica, uma vez que o elementar da prática historiográfica é a compreensão e o uso da documentação como fonte primária de pesquisa. Contudo, diante da crescente utilização da cultura material, especialmente a partir da década de 1980, e a existência de um Laboratório de Arqueologia do Pantanal – LAPan, desenvolvendo pesquisas com a cultura material local, é possível pensar em formas de estreitar o relacionamento entre a prática historiográfica e o estudo das culturas materiais. Outro elemento impulsionador a introdução do estudo da cultura material é a potencialidade cultural da região de Corumbá-MS, em se tratando de uma região fronteiriça, que produz uma cultura material suigeneris que permite, ao mesmo tempo:

– Identificar as diferenças étnicas e culturais que convivem na região;

– Demonstrar as suas transformações e apropriações ao longo do tempo;

– Comparar as características funcionais e tecnológicas entre os diferentes grupos e períodos históricos.

Soma se as condições apresentadas o fato de Corumbá ter parte do seu território tombado pelo Decreto-Lei n. 25 de 1937 como patrimônio cultural brasileiro, do qual em sua maioria corresponde ao patrimônio material edificado. Nesse sentido compreende se de grande importância o desenvolvimento de atividades que aproximem tanto os alunos do curso de história, como os alunos da educação básica de Corumbá, ao universo da pesquisa no campo da cultura material.

Objetivo geral

Reconhecer as potencialidades da pesquisa com a cultura material na produção dos conhecimentos sobre a história da relação entre os grupos humanos e o meio em que habitaram, através da realização de oficinas ministradas pelos alunos do curso de Licenciatura em História Cpan/UFMS aos alunos da educação básica das escolas de Corumbá.

Objetivos específicos

Apresentar o que é a cultura material aos alunos da educação básica; demonstrar a importância do reconhecimento da história nos objetos; desenvolver atividades práticas de elaboração de elementos da cultura material; Aumentar a relação dialógica entre professor e alunos; Aumentar o interesse dos alunos da educação básica pela história.

 Metodologia

O projeto será desenvolvido em duas partes: formativa e oficina Formativa:

Corresponde a etapa de formação dos alunos do curso de história sobre:

– Conceito de cultura material: apresentarei aos alunos do curso quais os conceitos mais utilizados para compreender a cultura material e parte da história desse campo de pesquisa.

– Principais métodos de pesquisa: apresentarei aos alunos do curso de história os principais métodos de análise da cultura material, assim como os principais estudos realizados exclusivamente através das análises desses.

– Desenho de oficinas; orientar os alunos do curso de história a desenharem oficinas de cerâmica, arte rupestre e reconhecimento ósseo para serem aplicadas aos alunos da educação básica.

Oficinas: Em horário previamente agendado com as turmas das escolas de educação básica, os alunos de história receberam e desenvolveram as oficinas desenhadas por eles no LAPan.

Resultados esperados

Publicação de artigo com relato sobre os resultados das oficinas em coautoria com os alunos do curso de história; Aumento do interesse pela história através do aumento da procura por visitação a exposição do Pantanal.

Bibliografia

LIMA, Tania Andrade. Cultura material: a dimensão concreta das relações sociais. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, p. 11-23, 2011. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: MEC, 2000. BRASIL,Parâmetros Curriculares Nacionais. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/ seb/arquivos/pdf/introducao.pdf MENESES, U. T. B. A cultura material no estudo das sociedades antigas. Revista de História, [S. l.], n. 115, p. 103-117, 1983. DOI: 10.11606/issn.2316-9141.v0i115p103-117. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/61796. Acesso em: 10 mar. 2023. MILLER, Daniel. Artifacts and the meaning of things. In: Ingold, T. (Ed.). Companion Encyclopedia of Anthropology. London: Routledge, 1994. p. 396-419.

 

LINKS IMPORTANTES PARA O PROJETO

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https://www.youtube.com/live/g1EJ04tEwdc?feature=share